terça-feira, dezembro 23, 2008

O Jantar da Turma no JN - Justa Causa



O nosso Colega Rui Abrunhosa ( o ultimo à esquerda ) escreve quinzenalmente para o JN.
A Crónica do dia 22 foi precisamente inspirada no nosso jantar. Ei-la:


"Prenda de Natal

Há mais de 30 anos que nos reunimos, no mês de Dezembro, para celebrar à volta da mesa os tempos de estudantes do então 7º. Ano no Liceu Alexandre Herculano do Porto. O 25 de Abril estava ainda muito próximo (1976) e éramos uma turma sui generis, onde coexistiam simpatizantes da Causa Monárquica com militantes da L.U.A.R. e outras formações da extrema esquerda, correndo quase todo o espectro político da época. Estávamos ainda inebriados pela liberdade recém-adquirida, de tudo poder dizer e tudo poder fazer.
Este ano, na habitual reunião pudemos contar com a presença de um antigo professor desses tempos, a quem logo nas primeiras aulas tentámos fazer a “vida negra”, pela única e simples razão que era homem e nós queríamos antes uma professora. A coisa chegou a tal ponto que o professor foi ao Conselho Directivo e declarou que não nos iria dar mais aulas. Mas também não vinha a professora que desejávamos. Então um de nós foi pedir ao professor que reconsiderasse, depois de a turma se ter pronunciado maioritariamente pelo seu regresso. E ele regressou, e vários de nós colheram das suas aulas importantes ensinamentos para o seu futuro profissional, já que hoje também são professores.
Este é um exemplo de um tipo de reivindicações que os alunos do secundário de há trinta anos atrás faziam, com uma importante diferença: a de que no meio dessa efervescência libertária não havia nem faltas de respeito nem faltas de educação e se tinha a ideia de que na escola havia autoridade e essa autoridade estava nos professores. Apesar de tudo o resto.
Hoje, a falta de autoridade é um mal que mina vários sectores da sociedade portuguesa e nomeadamente os sectores do Estado e da Justiça onde ninguém parece interessado em fazer seja o que for para que se cumpra a lei. É possível que essa falta de autoridade emane da falta de credibilidade da nossa classe política, que transita de cargos governativos para os interesses privados ou para outras benesses que o próprio Estado lhe confere, sem o mínimo rebate de consciência. De facto, a falta de credibilidade já foi mesmo substituída pela falta de vergonha, que leva aqueles que, movidos pela ganância e pela cupidez não se importaram de acumular lucros obscenos, num país em que tanto é preciso fazer para diminuir o fosso entre ricos e pobres, a pedir agora ao Estado que os ajude a remendar os buracos que abriram.
Por isso, neste Natal, a prenda no sapatinho que viria a calhar para todos nós, era um maior e melhor exercício da autoridade por parte dos nossos governantes e dos nossos políticos. Todos ganharemos com isso, mesmo que às vezes não o percebamos logo como ocorreu no episódio que contei dos meus tempos liceais, porque a autoridade é o alicerce fundamental de qualquer regime democrático."
Rui Abrunhosa Gonçalves( 22/12/08 / Justa Causa)

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