sábado, fevereiro 06, 2010
A loucura do trabalho
Um dia destes li no Público uma entrevista a Christophe Dejours,psicanalista e professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris,que dirige o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção – uma das raras equipas no mundo que estuda a relação entre trabalho e doença mental.
Achei-a assustadora em relação ao que hoje se passa nas empresas, nas Escolas e por todo o lado em que a esquizofrenia patronal, na ânsia do lucro e rsultados não olha a meios, nem que seja à custa das vidas dos trabalhadores, criando um clima insuportável para depois a necessária distribuição da riqueza criada não ser distribuída justamente e ir parar ao bolso dos do costume.
Além disso cria-se uma cultura de vigilância, medo, inveja e mau relacionamento como forma de controlar as pessoas a todos os níveis.
O regresso à barbárie é um realidade até ao momento em que a população acorde e se produza uma ampla revolta.
Pela parte que me toca, basta ver as alterações profundas para pior no relacionamento dos profesores nas Escolas, não que a avaliação não deva ser feita mas pela forma encontrada que não é diferente do que fala Dejours.
Deixo aqui dois parágrafos da extensa entrevista que pode - e deve - ser lida aqui para reflexão.
"A avaliação individual é uma técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho, porque pôs em concorrência os serviços, as empresas, as sucursais – e também os indivíduos. E se estiver associada quer a prémios ou promoções, quer a ameaças em relação à manutenção do emprego, isso gera o medo. E como as pessoas estão agora a competir entre elas, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera profundamente as relações no trabalho: “O que quero é que os outros não consigam fazer bem o seu trabalho.”
Muito rapidamente, as pessoas aprendem a sonegar informação, a fazer circular boatos e, aos poucos, todos os elos que existiam até aí – a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua – acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe…"
"O que é o karōshi?
É uma morte súbita, geralmente por hemorragia cerebral (AVC), de pessoas novas que não apresentam qualquer factor de risco cardiovascular. Não são obesos, não sofrem de hipertensão, não têm níveis de colesterol elevados, não são diabéticos, não fumam, não são alcoólicos, não tem uma história familiar de AVC. Nada. A único factor que é possível detectar é o excesso de trabalho."
Mas ... ainda há esperança ...
"E, na sequência das histórias de suicídios, alguns desses empresários vieram ter comigo porque queriam repensar a avaliação do desempenho. Comecei a trabalhar com eles e está a dar resultados positivos.
O que fizeram?
Abandonaram a avaliação individual – aliás, esses patrões estavam totalmente fartos dela. Durante um encontro que tive com o presidente de uma das empresas, ele confessou-me, após um longo momento de reflexão, que o que mais odiava no seu trabalho era ter de fazer a avaliação dos seus subordinados e que essa era a altura mais infernal do ano. Surpreendente, não? E a razão que me deu foi que a avaliação individual não ajuda a resolver os problemas da empresa. Pelo contrário, agrava as coisas.
Neste caso, trata-se de uma pequena empresa privada que se preocupa com a qualidade da sua produção e não apenas por razões monetárias, mas por questões de bem-estar e convivialidade do consumidor final. O resultado é que pensar em termos de convivialidade faz melhorar a qualidade da produção e fará com que a empresa seja escolhida pelos clientes face a outras do mesmo ramo."
Devem memo ler e .. pensar...
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